domingo, 31 de julho de 2011

Acredito que escancarado seja uma palavra clara para todo mundo, então também é claro que tudo pode estar aberto, pouco aberto, muito aberto, absolutamente aberto ou você já sabe. O mesmo com fechado, sendo que nesse caso específico escancarado não funciona, o mesmo com gordo, que poderia até estar escancarado mas raramente escancarado de gordo, normalmente duas situações, absolutamente gordo e também escancarado, caso que o gordo deve decidir se escancara ou não. Esse absurdo serve para notar que qualquer coisa pode ter alguma variação de intensidade, incluindo aí pelado, morto, mentindo e dormindo, coisas que normalmente se pensa que ou a pessoa está ou não está. Qualquer um no fundo sabe que se pode ficar um pouco pelado, bem morto, levemente dormindo ou realmente em coma, mentindo escancaradamente enquanto se diz de leve a verdade. Assim, se temos semimortos temos semivivos, pouco casados, muito espiões e quase certos. Inclusive escancarados poderiam ser pouco escancarados, sabe-se lá o que é isso. Mas é certo que não existem limites absolutos para nada, e mesmo luzes como já sabe quem têm juízo podem ficar um pouco acesas ou muito apagadas. Escancara-se aí o limite dos computadores, que não sabem o que fazer com aquilo que é talvez zero ou bastante um. Isso seria de nenhum interesse caso eu escrevesse à mão, o que não é muito o caso mas apenas um pouco, já que obviamente escrevo sentado em um computador, na verdade em frente a ele e sentado em uma cadeira, uso as mãos apenas para o batuque, quem escreve portanto não sou eu daí que realmente nada disso poderia ser culpa muito minha. A acusação poderia ser de pouco ritmo ou muita macumba, escrever jamais.

+

Provavelmente o mais seguro é se perder.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Este livro é para ser lido como qualquer outro, nenhuma novidade, siga as regras que você supostamente aprendeu na escola. Abra na página cujo número equivale a sua idade, e siga daí para a frente, até encontrar qualquer indicação numérica. Todos sabem disso, claro. Duas camisas (2), quatro casas (4), seis notas de algum dinheiro (6), 34 seios (34) ou 176 centímetros (176). Mude assim que ler a indicação para a página correspondente, aguarde a próxima (convém tentar). Deixe para o fim páginas não lidas e em nenhuma hipótese leia a página 145. Isso não é uma indicação numérica, é uma ordem.


+

Lembro de uma cadeira iraniana, que segundo minha mãe era algo frágil, que ninguém sentasse ali, caso em que ela desceria a mão. Uma cadeira pode ser arma, alvo, apoio para os pés, peça de museu, item de colecionador, obra de arte, uma raridade, velharia, pode ser bamba quase quebrando ou o motivo da topada. Você sempre pode sentar na mesa ou no chão, no colo ou na escada, na cama. Você pode às vezes, claro, sentar em alguma cadeira. Perceba que uma cadeira pode a qualquer momento ser qualquer coisa, aconchego ou obstáculo, imitação péssima de uma geleira, apoio para a almofada suja, cabide ou sua companhia para o jantar. Uma cadeira, seja lá o que isso for, convém correr caso ela se mexa, depende daquilo que você acha dela, de como se relaciona com a possibilidade de estar enganado e provavelmente ter sentado onde não devia. Sobre isso é a caixa amarela. Sobre a importância de tudo aquilo que você ainda acha que não existe.


+

Comprei hoje Jesus Cristo, 70 dinheiros. Inflação, já houve quem pagou 30.

Vá lá, o meu é cromado.


domingo, 10 de julho de 2011

+

Em pouco tempo você percebe que reuniões são todo motivo necessário para não encontrar mais ninguém. A não ser que paguem. Você deveria cobrar pra ir a casamentos, batizados, cobrar o dobro por uma colação de grau, cobrar mais que isso por um chá de cozinha. Cobrar por almoços estúpidos, por visitas que te atrapalham, por gente que te telefona fingindo que sente saudade quando precisa de mais um favor. Cobrar por festas, cobrar por happy hours. Cobrar a vista, ou como fizeram suas ex-mulheres, cobrar a prazo. Desde que você comece a cobrar. Cobrar quando te ligam contando que lembraram que te foderam, três vidas atrás, e precisam de perdão. Ou de uma explicação para que não mais te fodam nessa. E um orçamento.

+

E se cada corrida, após o tiro de largada, pudesse seguir em qualquer direção. Se antes do pódio o acaso aparecesse, e mudasse a direção, o piso, a distância e o motivo. Ganharia quem enxerga o fim antes de começar a correr, ou quem corre sem se importar para a direção? Ganharia o mais rápido? O mais alto? Ganharia quem enxerga melhor?

Eu sempre aposto em quem desvia do tiro da largada.

domingo, 3 de julho de 2011

Todo o trabalho possível hoje é esperar o relógio andar e seguir postergando, que palavra é essa, deveria ter algo mais simples como pimba, pimbando obrigações, promessas, compromissos, grandes projetos e sonhos mirabolantes, pimbados de uma em uma hora, à medida que o tempo passa e você não faz nada mas só promete, empurra um pouco mais, vai indo, o dia lá fora escurece, chega a hora do seu café, isso sim é simplicidade, se chamassem de hidrocarbogranulé não faria meio por cento do sucesso, empurra um pouco mais, o que seria às 14 já não é às 18, tampouco às 20, tampouco deveria ser aquela posição específica da tampa de quem entende como se faz arroz, que sempre cai e espatifa e é gato correndo para todo lado como se fosse explodir a guerra, tampouco, nem lá nem cá, abafa mas não. Tampouco às 21 você fará nada, nem arroz, nós aqui no fundão já sabemos disso, vagabundos, cheios de intenção que vai virando preguiça à medida que o dia segue, OK, você pensa, é domingo, convém aliviar, empacotar um ou outro sonho só agora, por hoje, mais uma hora, pimba. Preterir o futuro em função da pimba diária, outro xingo que deveria ser sinônimo de preferir mas só sexualmente falando, prefiro para casar aquela, mas pretiro aquela outra, uma coisa de preferir com ter, preterir, o que economizaria uma barbaridade de explicações como prefiro para comer, aquela é uma gostosa, ô lá em casa, imagina isso dando e outras sem-vergonhices, tudo resolvido se todos usássemos o preterir no sentido de preferir de costas. Seguir na pimba, sonho que vale a pena é com o cheiro do hidrocarbogranulé ou com a gostosa preterida da cafeteria.