domingo, 28 de agosto de 2011

E ela seguiu dizendo notando minha tristeza que eu deveria ir em frente com confiança que jamais daria com os burros n’água. Talvez por associação com o bicho de pasto referido pensei de imediato na vaca amarela, animal fantástico do folclore dos que falam excessivamente nos dias em que acordam calados e não arrisquei um pio, mas minha vontade era explicar na hora que os burros já fazem mergulho autônomo a essa altura, já são subburros, burros submarinos se vossa senhoria tem apreço pela norma culta, de maneira que a preocupação não era se daria ou não com os bichos n’água, mas se os cilindros teriam ar o bastante para que algum burro sobrevivesse. Evidentemente ela se preocupava com a motivação, um conceito subjetivo, e eu lidava com a realidade clara e óbvia de manter algum quadrúpede em estado de marcha abaixo da linha d'água, tendo desistido de evitar uma possível dor de ouvido, não há maneira de impedir o mar de invadir orelhas daquele tamanho, e isso deveria ser óbvio inclusive para otimistas que vivem fantasiando já que eu, realista e metódico, só penso em calcular rapidamente o tempo de descompressão para o caso de algum dia a maré baixar até o ponto em que orelhas enormes apontem no horizonte.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Se a língua fosse lógica guelra seria o nome das guerras em atlântida ou de guerras travadas entre anfíbios, blindados e não sapos, ou na pior hipótese, fossem mesmo se referir ao sistema de respiração dos peixes, que tratasse exclusivamente do sistema nos peixes de briga já que nos de boa índole o nome não faz sentido algum. A língua não obedece nenhum sistema razoável de lógica, são sempre convenções decididas por pessoas com nomes estranhos mas respeitadíssimos no incrível reino mágico da morfologia. Daí que resolvendo me aventurar comecei a criar palavras por onde achei mais plausível, pelo nome da ciência em si de criar palavras lastreadas em uma lógica individual, assim eu crio as minhas, você as suas e jamais brigaremos por isso, poderíamos até trocas algumas, inclusive insultos, fosse puramente pelo interesse na língua e não uma decisão de xingar usando palavras inéditas como grandecíssimo charolha. Pensei em minhalogia, logo substituída por filélogia, quase auto explicativa, para as palavras de minha exclusiva preferência. Para as suas manteríamos sualogia, mas o ideal é que nesse caso você escolha e substitua o nome da ciência o quanto antes. Para insultos, feladumalogia, vinda obviamente da corruptela fela que a frente de qualquer profissão de má fama indica um parentesco que todos se esforçam para evitar não sei na verdade bem porque, já que as origens não devem nunca ser negadas ainda mais quando tão interessantes. Enfimlogia para palavras secas que antecedem silêncios, acabam com conversas e terminam com nhenhenhens, palavra essa que obviamente viria de ciência própria, a manhologia, ramo da coisa que estudaria tudo que significasse com precisão beicinhos ou choramingos e barrigas pra cima e bicos pelos mais variados motivos. Assim lógica, plausível, moldável não só na sintaxe mas desde a morfologia, poderíamos descrever pores do sol com agoracedendo derradeiramarelança, coisa que além de funcional explica com mais exatidão qualquer fim de tarde razoável.



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O bicho é tão gostoso que pra se limpar se experimenta, e gosta, mesmo vencido

Diferente de algodão doce gato não enjoa e guarda unhas e linguas ásperas. Não diz, mas sabe que não foi fácil chegar a pelúcia

domingo, 14 de agosto de 2011

Convém notar que cadeira iraniana significa precisamente que estamos em qualquer lugar fora o Irã, claro que lá chamaríamos de cadeira, ou se fôssemos incrivelmente chatos de cadeira tipicamente iraniana, caso em que faríamos qualquer negócio menos sentar sobre o objeto sacro. Daí que queijo suíço não existe na Suíça, macarrão à bolonhesa é impossível em Bolonha, café carioca no Rio nunca, de modo que é fácil perceber o quão insólito é o fato de que teríamos que levar french fries de Nova York para Paris tentando unir o útil ao agradável e depois ir para a cadeia por batizar a batata em inglês ou por levar para solo francês ketchup. Prova de que não foi peixe nenhum que descobriu a água, quase tudo de memorável de qualquer lugar não pode existir no mesmo qualquer lugar mas só em qualquer outro, talvez uma condição do universo, uma lei da ONU ou a prova de que nunca existiu queijo suíço e tudo não passa de um meia cura maquiado.


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Como mulher insuportavelmente chata mas que cheira bem e dorme com cara inocente, você sempre se afeiçoa por coisas que na verdade deixaram de funcionar anos atrás mas que para trocar você imagina o trabalho, nem pensar, vamos ficar aqui mesmo no sofá que tudo passa e logo hoje não é um bom dia para se tratar disso. Assim as lâmpadas queimadas, a descarga que faz barulhos estranho e só para quando apanha, o fogão automático que atualmente usa fósforos, a torneira que pinga se você apertar muito pinga se você apertar pouco pinga na verdade pinga é só ir até o fim pinga e voltar um pouquinho pinga e agora é torcer pinga para parar quem sabe deu certo. Na verdade em algum momento tudo se arruma, fora a cara de inocente e o taco que descola bem no seu caminho, resumo da piada, universo tirando sarro da sua cara.